Por Tiago Matos
Foi há precisamente 200 anos que Mary Shelley deu a conhecer ao mundo o aterrador monstro de Frankenstein. O que sabes acerca dele?
Nasceu de um desafio
Foi no verão de 1816, na cidade de Genebra, na Suíça, que um grupo de amigos reunidos numa casa se desafiou a criar histórias assustadoras para passar o tempo. Do grupo fazia parte Mary Shelley, com apenas 18 anos, que trabalhou a macabra ideia de um cientista, Victor Frankenstein, gerar vida através de partes distintas de vários cadáveres, apenas para posteriormente abandonar a sua criação, repugnado com o resultado. Intitulou o romance resultante de “Frankenstein ou o Prometeu Moderno” e publicou-o anonimamente em 1818. Curiosamente, foi neste mesmo desafio que John William Polidori, outro dos participantes, criou o conto “The Vampyre”, precursor de “Drácula” e de toda a literatura de vampiros.
Um monstro sem nome
Embora o monstro seja popularmente conhecido como “Frankenstein”, Mary Shelley não lhe atribui qualquer nome no romance. Não o descreve sequer como “monstro”. Na história, Victor Frankenstein refere-se a ele com designações tão simpáticas como “demónio”, “ogre” ou “coisa”, mas nunca “monstro”. A criatura alega, a certa altura, que devia ser Adão, aludindo ao primeiro homem de acordo com a Bíblia, mas que é antes um anjo caído.
Verde ou amarelo?
Quando pensas no monstro de Frankenstein é provável que imagines uma criatura verde com o rosto quadrado e parafusos nas têmporas. No entanto, a descrição de Mary Shelley é a de um ser com a pele amarelada, cabelos longos de um negro lustroso, dentes proeminentes e estatura elevada – cerca de 2,5 metros. Foi o ator Boris Karloff quem popularizou a imagem que tão bem conhecemos do monstro nos três filmes de terror clássicos que protagonizou na década de 1930. Quando Robert De Niro o encarnou, em 1994, adotou uma aparência mais próxima da fonte original. O apetite pela leitura Outro dos mitos popularizados acerca do monstro de Frankenstein é que este é um ser irracional e incapaz de se expressar. No livro, o monstro não apenas se revela, a certo ponto, perfeitamente capaz de verbalizar as suas ideias, como se entretém a ler as obras “Paraíso Perdido” (John Milton), “Vidas Paralelas” (Plutarco) e “A Paixão do Jovem Werther” (Goethe).
Frankenstein, a autobiografia?
Por estranho que pareça, é possível encontrar alguns paralelismos entre Mary Shelley e a criatura do seu clássico de terror. Cresceram ambos sem mãe, tendo a de Mary morrido apenas dez dias após o seu nascimento devido a complicações pós-parto. E foram ambos abandonados pelo pai – o de Mary virou-lhe as costas quando ela se envolveu com o futuro marido, Percy Shelley. O livro explora ainda alguns dos temas que mais atormentavam Mary: inadaptação, isolamento e perda. |
3 Versões de Frankenstein
“Frankenstein: Primeira Versão de 1818” (Compasso dos Ventos Editora): A primeira edição de Frankenstein era mais densa e não estava assinada por Mary Shelley, mas o prefácio escrito pelo marido e a dedicatória ao pai revelaram-na como a autora da história, motivando críticas tão absurdas como a do jornal British Critic, que escreveu que, como foi criado por uma mulher, o romance devia ser liminarmente rejeitado.
“Frankenstein” (Relógio d’Água): Após uma edição e revisão bastante extensas de Mary Shelley, que procurou atenuar alguns dos “radicalismos” da história original, em 1831 foi publicada uma nova versão de Frankenstein que ainda hoje permanece popular. Esta edição incluía uma introdução escrita pela autora sobre o desafio que deu origem à ideia.
“Frankenstein Contado Tipo aos Jovens”: Inserida na coleção “Os Livros Estão Loucos”, esta versão do clássico de Mary Shelley resume a narrativa, adapta a linguagem original e preenche as páginas com ilustrações para tornar a história acessível a um público mais jovem, entre os 9 e os 14 anos.”
REVISTA ESTANTE FNAC